A RETOMADA DO CRESCIMENTO

O Brasil vive a sua pior e mais duradoura crise e os reflexos na área de crédito, como em toda a economia, se fazem notar de forma bastante significativa. Dados apontam tanto para a redução do mercado de crédito, quanto para elevação dos níveis de inadimplência, e atualmente, aproximadamente 60 milhões de pessoas, ou praticamente 40% da população adulta, possuem contas em atraso. 

Os números são significativos, e embora venham apresentando pequena redução quando falamos de pessoas físicas (talvez por contas dos recursos liberados do FGTS), ainda temos na outra ponta a inadimplência das pequenas e médias empresas apresentando elevação. Informações do SPC apontam que o número de empresas com contas em atraso apresentou elevação de 3,5% em maio deste ano no comparativo com maio de 2.016, sendo este o pior resultado para o mês desde 2011. 

Mas, se por um lado tivemos a redução do mercado de crédito e elevação da inadimplência, por outro lado verificamos que as vendas no varejo, um importante indicador da economia, já esboçam pequena reação.

Pensando de forma positiva, temos ainda as reduções das provisões para devedores duvidosos (PDD) dos bancos, o que pode indicar tendências de início de um novo ciclo de crédito. É necessário, entretanto, aguardar. Há quem diga que esta redução de PDD pode estar relacionada a retração de atividade econômica, baixos investimentos realizados pelas empresas e ainda, altas restrições por parte dos próprios bancos para as concessões de empréstimos e financiamentos. 

Acesso ao Crédito no momento atual:

Atualmente, 80% do mercado de crédito está concentrado nos 4 maiores bancos, o que pode ser um grande complicador. E por conta de situações do momento da economia tais como altas taxas de desemprego, altos níveis de inadimplência, baixa produtividade por parte das empresas aliada ao baixo nível de governança corporativa, o processo de crédito se torna lento, burocrático, seguido de altas taxas de juros e grande exigência de garantias. Chega-se a ouvir que há recursos para empréstimos, mas, grande "dificuldade para emprestá-los".

Reformas microeconômicas para a produtividade e crescimento sustentável:

Além das reformas macroeconômicas propostas pelo governo, devem também ser promovidas reformas microeconômicas com reflexos diretos em produtividade, resultados das empresas e melhora no ambiente de negócios no sentido de torná-lo menos burocrático, mais produtivo e mais barato. 

Assim, no que tange ao crédito, falamos em duplicata eletrônica, alteração da lei de falências e cadastro positivo resultando em diminuição da inadimplência, maior acesso a empréstimos e financiamentos e ainda redução do spread bancário.

As micro reformas incluem ainda redução no tempo de pagamentos de impostos (e-social, SPED, Nota Fiscal eletrônica) redução no tempo de abertura/encerramento de empresas (de 101 dias para 3 dias com o Redesim) e criação de portal único de comercio exterior com objetivo de redução de tempo nos procedimentos de importação e exportação. 

Caso sejam bem-sucedidas, as reformas na microeconomia devem ainda impactar positivamente a posição do Brasil no ranking mundial de facilidade "em se fazer negócios". Hoje, ocupamos a posição de número 159, atrás da Argentina e acima de Bolívia.

Mercado de Capitais pouco desenvolvido:

Uma alternativa ao mercado de crédito seria a maior participação das empresas no mercado de capitais. Mas, esta é uma iniciativa que exige planejamento de longo prazo e maiores investimentos, sem se desconsiderar que o acesso a este mercado tem custos. Requer ainda das empresas aperfeiçoamento do nível de governança corporativa, maior apetite do empresário no sentido de correr riscos e após isso, maior conhecimento das modalidades de financiamentos e recursos disponíveis.

Diante de todos estes, digamos, desafios, temos que um dos maiores concorrentes ao desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro dos últimos anos foi o próprio BNDES. Os seus repasses, normalmente, não exigiram investimentos por parte das empresas, foram baratos (juros abaixo do custo do dinheiro) e foram interessantes a quem não tem assim tanto apetite por risco. Há quem diga que o BNDES foi o mercado de capitais do Brasil nos últimos governos.

BNDES:

Em fase de transição e reposicionamento, a tendência é de que o banco passe agora a realmente fazer o papel de fomento e de não substituição do mercado de capitais. Sua atuação deverá ter foco horizontal e os recursos de TJLP serão priorizados para infraestrutura, micro e pequenas empresas (contrário à criação de grupos brasileiros transnacionais com recursos do banco) e inovação.

Terá atuação voltada a projetos e não a setor, e promoverá o incentivo à governança corporativa, estimulando as empresas ao ingresso no mercado de capitais. Para o mercado externo, as exportações passam a visar bens de capital e não mais commodities.

Apesar de tudo:

O Brasil está passando por uma grande crise, a pior e mais duradoura, mas o descolamento entre economia e política parece estar se transformando em uma realidade. As denúncias diárias de corrupção, desta vez não levaram o câmbio a patamares assustadores como em outras épocas, e a inflação continua em ritmo de queda (talvez pudéssemos falar em estagflação).

Dados da equipe econômica apontam ainda para elevação do índice de confiança, crescimento do consumo privado superior ao consumo público, e manutenção do investimento estrangeiro direto. Este inclusive possui fluxo superior ao da balança comercial.

Falando em equipe econômica, o único perigo é que ela se desfaça. Ai economia e política vão andar de mãos dadas como em tempos anteriores.

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